quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista com Reginaldo Bispo

Segue abaixo a entrevista que o Comitê realizou com Reginaldo Bispo, militante e trabalhador, demitido político da Unicamp.

Comitê - Estamos vivendo mais um momento de repressão dos movimentos sociais na Unicamp e a Reitoria está processando nove trabalhadores. Sabemos que você também foi vítima de repressão da Unicamp em anos anteriores. Você poderia comentar conosco quando isto ocorreu?

Reginaldo Bispo - Fui demitido duas vezes por greve: A primeira vez na intervenção do Maluf na Unicamp em 1981, junto com todos os 09 diretores da Assuc-Associação dos Servidores e com os diretores de diversas faculdades e institutos. Desta vez fomos readmitidos judicialmente após três meses de greve. Na segunda vez, foi em 1984, fui demitido sozinho, devido a greve de 2003, da area hospitalar (HC e Santa Casa). Estou demitido desde então.
A geração de lutadores de 1977 a 1984, foi a primeira e mais vitoriosa. Depois, a categoria foi traida por duas ou tres gestões burocraticas e pelegas. Que se negaram a lutar pela minha readmissão.
Foi o bastante para que  a reitoria e a chefia (sempre o mesmo grupo PPS-PSDB, eventualemente PT) retomar sua arrogancia e as punições aos trabalhadores.

Comitê - Como foi que a Unicamp o atacou?

Reginaldo Bispo - Em 1981, foi por uma greve iniciada na Santa Casa, e que recebeu a adesão de toda a categoria, envolvia desde a reivindicação por reajuste atrasado, condições dignas de trabalho, uniforme, transporte e alimentação para o pessoal da Santa Casa, e creche, fim da repressão dos chefes, condições de trabalho na manutenção e desvios de função em todas as unidades.
Na segunda, sob a cusação de insubordinação, inapetencia e outras calunias, fraudaram uma comissão de sindicancia, onde 04 dos 6 membrosdemitiram-se para não assinar.Negaram-me e sumiram com documentos de prova, cartão de ponto, e livro de entrada e saida de exames no laboratorio central do HC. Um dos membros da Comissão processante me perguntou se eu estava ali pra ser punido ou pra ser promovido. O reitor dr. Pinotte, o Serra Secretario do governo Montoro, o Paulo Renato, então assessor de ambos, e o diretor do DGR, Arly de lara Romeu, foram os responsaveis pela substituição de 04 membros da Comissão processante, para dar o quorum para decidirem a minha demissão. A diretoria da ASSUC e a oposição da época favoreceram a demissão, pois a minha saida de cena, os beneficiava com a ocupação e espaço politico. Só os companheiros da Convergencia Socialista, com quem e tinha tido grandes paus em 1982/83, junto com os membros do MNU- Movimento Negro Unificado, minha organição,  se empenharam pela readmissão.

Comitê - Então você foi demitido? E como você ficou? Qual foi a reação da sua família?

Reginaldo Bispo - Fiz bicos de fotografo, cinegrafista de video, filmei casamentos e aniversarios,  plantei e vendi hortigranjeiros organicos, criei cachorros Fila-Brasileiro e Mastin Napolitano, trabalhei em assessoria sindical e com sonorização. Nunca recebi apoio juridico ou econômio da Assuc ou do STU. Na época eu era jovem e solteiro.

Comitê - Como você se sentiu quando tudo isso aconteceu? Como foi ter de vir ao trabalho sabendo que estava sendo punido?

Reginaldo Bispo - Além de perder o trabalho inustamente por motivos politicos, sofri muito por perder a legitimidade de estar nas lutas da categoria, pois que não era mais membro. Assim mesmo resisti até 1992, quando desisti de militar na Unicamp, mesmo tendo companheiros do MNU aqui. Não recebi ferias, salario desemprego, os 40% de multa do fundo de garantia, nem o fundo de garantia.

Comitê - E agora, Reginaldo, que esta situação se repete na Unicamp, o que você poderia dizer aos nossos colegas que estão sendo processados?

Reginald Bispo - Hoje diferente da época, não temos ditadura, temos uma consttuição e temos que exigir cumprimento. A greve é legal, o sindicato tem uma boa estrutura econômica, juridica e poltica, portanto pode e deve dar total resaldo contra a punição desses companheiros. Neste momento  é fundamental mostrar força e a injustiça dessa perseguição, convocando a categoria a ser solidária, preparando-a, de modo a adquirir consciencia, se organizando e mobilizando para barrar a punição aos companheiros.

Comitê - Hoje, na Unicamp, nós temos muitos funcionários novos, que não conhecem o histórico de lutas e conquistas que já houve aqui, tão pouco têm conhecimento sobre as pessoas que já foram punidas por lutar. Você teria uma mensagem de esperança para passar a esses novos trabalhadores para que eles não se sintam amedrontados a lutar?

Reginaldo Bispo - Não há outro modo, lutamos para conquistar as nossas reivindicações e direitos, melhores salários e condições de trabalho, ou viramos escravos dessa reitoria e chefia autoritária, que ano após ano, gasta milhões com perfumarias, com seus apaniguados, negando-se valorizar os trabalhadores, equiparando os reajustes e auxilio aliementação  ao da USP.  Alegam que não tem orçamento, mas pra dividir a categoria, proporcionando reajuste maior para os professores sempre tem. Para viagens e projetos de toda ordem também. Na verdade, o autoritarismo da reitoria visa quebrar nossa moral e disposição de luta, nossa dignidade e auto-estima. Portanto, "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", temos que enfrenta-lo. Somos a unica especie de animal que pensa, por isso, lutamos por melhorias para nós e nossos filhos e familias. Só há um geito de resgatar isso, a luta.

Comitê - E aos servidores que já têm mais tempo de casa, muitos dos quais, inclusive, conhecem você e talvez até tenham lutado ao seu lado, você gostaria de deixar alguma mensagem?

Reginaldo Bispo - A disposição de lutar pelos nossos direitos é que nos faz homens e mulheres dignos. A solidariedade e a defesa dos companheiros de luta é a unica razão que nos faz manter a cabeça erguida diante de nossos filhos, mulheres e maridos. Nos faz seres humanos politicos e dignos, diferentes dos outros animais.
- A luta em defesa dos processados pela Unicamp.
- Pelo direito ao trabalho e de lutar!
- Nenhuma Punição aos lutadores grevistas!

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